27.12.07

MPB com violoncelo e voz


"1/2 dúzia de cordas e um punhado de paixão pela legítima música popular brasileira..."

Até aí, tem-se a descrição do que parece ser uma receita muito simples (e até não deixa de sê-la!)
No entanto, não se trata das seis cordas de um violão... Mas sim, das quatro de um violoncelo e mais duas de uma laringe, apropriadas por dois jovens músicos gaúchos!


A vontade de saborear a música brasileira com um tempero próprio, somada ao interesse comum pela pesquisa das manifestações culturais e dos regionalismos, motivou a formação do duo “1/2 Dúzia de Cordas” e justifica a escolha por um repertório que visa ao reforço da identidade musical brasileira. Numa proposta diferenciada, Elinka Matusiak e Tiago Kreutzer buscam atestar a possibilidade de renunciar-se à formação tradicional de voz e violão/piano, ousando optar pelo uso incomum de dois instrumentos melódicos na execução de música popular: a voz e o violoncelo.

Para isso, o duo aposta na elaboração de arranjos que valorizem não apenas a riqueza do discurso melódico (tal como na técnica contrapontística), como também os diálogos rítmicos, e, portanto, justifiquem a ausência de um instrumento harmônico, contrariando os moldes convencionais da canção brasileira (canto com acompanhamento) e, também, tangendo a música instrumental. Embora existam algumas composições para este tipo de formação assinadas por importantes nomes da música erudita brasileira, a combinação singular de violoncelo e voz na interpretação da música popular não é, de fato, uma opção usual; e justo aí é que se encontra o cerne do desafio que a dupla transforma em deleite.

Passeando livremente entre o lundu e a canção urbana, este primeiro trabalho perfaz um panorama da musicalidade de diversas regiões do Brasil, revisitando desde o folclore até o legado de mestres como Villa-Lobos, Pixinguinha, Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, Baden Powell, Guinga, entre outros. O duo também apresenta algumas músicas próprias e de outros compositores menos conhecidos nacionalmente.

Além da afinidade ideológica e estética, Elinka e Tiago exibem matizes que refletem experiências diversas em composição, arranjo, regência (coral e orquestral), canto (solo e coral), ensino, pesquisa sobre folclore e história da música brasileira, bem como o estudo e a prática instrumental. Embora jovens, ambos sustentam uma bagagem cultural e artística digna de nota, que se deve não apenas às duas décadas de vivência musical diária como também ao ecletismo e ao espírito empreendedor que os têm movido desde sempre entre palcos e platéias de teatros, salas de concerto, auditórios, casas de shows, pavilhões, bares, restaurantes, CTGs, altares (de igrejas) e até trios elétricos!